segunda-feira, 2 de julho de 2007

Os Rubaiyat


(...) 70. Vinho! Que palpite em minhas veias,
que inunde a minha cabeça. Silêncio!
Tudo é mentira. Copos! Depressa!
Envelheci muito.

71. Do meu túmulo virá um tal perfume de vinho
que embriagará os que por lá passarem,
e uma tal serenidade vai pairar ali,
que os amantes não quererão se afastar.

72. No turbilhão da vida são felizes aqueles
que presumindo saber tudo não se instruem.
Fui buscar os segredos do Universo e voltei
invejando os cegos que encontrei pelo caminho.

73. Alguns amigos me dizem: Não bebas mais Khayyam.
Respondo: Quando bebo, ouço o que me dizemas rosas, as tulipas, os jasmins;
ouço até o que não me diz a minha amada.

74. Em que pensas? Nos que já morreram? São pó no pó.
Pensas nas virtudes que tiveram? Sim? Deixa-me sorrir.
Toma este copo, vamos beber; ouve sem inquietaçãoo vasto Silêncio do Universo.

75. Não faças planos para amanhã.
Sabes se poderás terminar a frase que vais dizer?
Talvez amanhã estejamos tão longe deste albergue,
como os outros que já se foram há sete mil anos.

76. Conquistador de corações, belo moçode olhos brilhantes e altivo semblante,
senta-te e apanha um copo. Eu te contemplo,
e penso na ânfora que serás um dia.

77. Há muito tempo a minha mocidade se foi.
Primavera da minha vida, passaste como passaram
as outras primaveras: sem que eu percebesse.
Partiste, como se vão os melhores dias.

78. Sente todos os perfumes, todas as cores,
todas as músicas; ama todas as mulheres.
Lembra-te que a vida é breve,e que breve voltarás ao pó.

79. Não terás paz na terra, e é tolice acreditar
no repouso eterno. Depois da morte
teu sono será breve: renascerás na erva
que será pisada, ou na flor que murchará.

80. O que realmente possuo?
O que restará de mim depois da morte?
É tão breve a vida, uma fogueira:
Chamas, e depois, cinzas. (...)
Omar Khayyan
Versão em Português de Alfredo Braga

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