quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Craque sem chuteiras


Ao criar o blog Mulher e Futebol, Marina Miyazaki Araújo exportou seu humor de Londrina para o Brasil

Ela diz que não entende nada de esporte mas, num ato de ousadia, resolveu criar um blog que, logo na apresentação, diz a que veio: ''O blog Mulher e Futebol, de Marina Miyazaki Araújo, tem como objetivo mostrar aos contaminados pelo futebol, uma visão livre de qualquer conhecimento técnico teórico ou prático sobre o esporte, a partir da crítica sem fundamento e puramente destrutiva da relação homem-bola.''

Aos 42 anos, casada e mãe, Marina deixou a carreira de psicóloga há algum tempo, sem imaginar que um dia se transformaria em cronista esportiva, levando seu nome e seu humor de Londrina para outras cidades do Brasil.

Há três anos, quando começou a escrever sobre o assunto, escondeu o fato da família nos primeiros meses, mas acabou contando ao marido que estava falando de futebol na internet, depois de ser citada pelo escritor e cronista esportivo Xico Sá em sua coluna na Folha de S.Paulo.

No comentário, Xico ainda brincava com seu nome, lembrando a música de Dorival Caymmi: ''Marina será morena, loira ou ruiva?'' Então, ela lhe mandou um e-mail avisando: ''Nada disso, sou japonesa.'' E perguntou: ''Você se referiu ao meu blog mesmo?'' Porque ainda acreditava que a tal Marina poderia ser outra pessoa. Mas não era. E, assim, a nova cronista - dedicada a esculhambar com times, técnicos e jogadores - começou a ganhar autoconfiança.

''Mas por que você decidiu escrever sobre este assunto?'' Para a pergunta que já ouviu tantas vezes, ela tem uma resposta rápida: ''Meu marido e meus filhos são fanáticos por futebol. São corintianos, daqueles que não perdem jogos na TV, guardam recortes de jornais e revistas, acompanham partidas com o radinho de pilha colado ao ouvido. Eu ficava ali vendo tudo e participando como podia.''

Num ambiente assim ''contaminado'', ela diz que não teve saída e costumava fazer comentários irônicos sobre a atuação dos times, técnicos, juízes e bandeirinhas. Um dia o marido sugeriu: ''Você devia escrever sobre isto.'' E, aparentemente, todos esqueceram o assunto, até Marina despontar na internet.

Ao elogio de Xico Sá seguiram-se outros. No seu blog há comentários de jornalistas como José Geraldo Couto, também da Folha de S.Paulo, que diz: ''Seus textos estão entre o que de melhor, mais original e divertido se produz hoje na crônica esportiva.''

O jornalista Ricardo Noblat também aprovou o estilo da blogueira de Londrina e sapecou outro elogio, com uma pequena sugestão: ''Dei boas risadas lendo seu blog. Além de bem escritos, seus textos são bem humorados, inteligentes e criativos. Podiam ser um pouco menores. Leitor de internet não gosta de textos grandes. Parabéns.''

Mas será que leitor não gosta mesmo de texto grande? Mais que isso: será que Marina leva a sério essa regra?

Ela argumenta: ''Sou mulher e por isto escrevo muito. Mulher fala muito, os homens se esquecem disso.'' E segue em frente com textos um pouco maiores que os de praxe num meio eletrônico, mas tão cheios de humor que o leitor vai até o ponto final.

Ela escreve: ''Definitivamente, o futebol está perdendo a graça, agora eles vêm com essa história de formação universitária para técnicos. Tá, eu sei que precisamos evoluir e a única saída para todos os problemas do mundo, quiçá do universo, está na educação. Não quero ser retrógrada, nem ignorante, desestimulando uma iniciativa tão bem intencionada e nobre. Quero apenas ressaltar: a melhora de uns é a desgraça de outros. O que seria do jornalista esportivo se não existisse o perna-de-pau? O que será de mim, se jogadores como o ex-pingolim-imaculado deixarem de falar 'iNdentidade'? E outros tantos deixarem de falar: 'ia indo, ia indo e iu', 'nem se eu tivesse dois pulmões, eu alcançaria aquela bola', 'eu posso não ser tão habilidoso, mas me esforço, sou um cara racista', 'quando o jogo está a mil, minha naftalina sobe'; o que será das minhas tardes fúteis?''

Célia Musilli
Especial para a FOLHA


Fonte: Folha de Londrina 09/12/2009
Quem quiser conferir o Blog de Mulher e Futebol
segue o endereço mulherefutebol.com

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Traição virtual com intenções bem reais

Joyce Carvalho

Conhecer pessoas pela internet, hoje em dia, é uma das coisas mais comuns em todo lugar. A rede permite ao usuário fazer amigos e se relacionar com pessoas de vários cantos do mundo.

Mas a facilidade da modernidade trouxe com ela a traição virtual, que pode resultar ou não em um encontro ou um relacionamento real. Para quem está em uma relação estável no mundo real, o ato pode configurar quebra do dever de fidelidade, mesmo que só haja troca de mensagens virtuais.

Este tipo de traição tem tomado tamanha proporção que até já motivou a criação de um "detetive online". Procurando em sites de buscas, é fácil encontrar a página da Investigação Virtual (www.investigacao-virtual.org).

Solicitam o serviço pessoas que desconfiam que estejam sendo traídas pelos parceiros, os quais embarcam em relacionamentos baseados na internet. "A pessoa passa a desconfiar quando o outro não sai do computador ou quando chega perto e a pessoa fecha rapidamente a página que estava visitando", comenta Carlos Rodrigues, um dos responsáveis pelo site. De acordo com ele, 60% dos clientes são mulheres entre 20 e 50 anos.

Por R$ 1,2 mil, compra-se um aplicativo. Este é instalado no computador "suspeito". O programa levanta e-mails ocultos e senhas, dando acesso às mensagens.

A própria pessoa que procurou pelo serviço pode, a partir da instalação, fazer a sua investigação. "Nenhum antivírus detecta o aplicativo. Existe a possibilidade de instalar remotamente também", explica Rodrigues.

A pessoa traída pode pedir a separação judical com base na traição virtual. A advogada Juliana Marcondes Vianna, do Escritório Katzwinkel e Advogados, em Curitiba, explica que o envolvimento virtual configura quebra do dever de fidelidade porque demonstra a intenção de cometer determinato ato.

Se a traição virtual abalar o casamento e causar outros problemas, o traído pode pedir indenização por danos morais. "Pode basear o pedido se a traição causou prejuízo substancial, se a pessoa se sentiu ofendida ou exposta. Nestes casos, o pedido de indenização pode ser avaliado. No entanto, por si só, a quebra do dever de fidelidade não gera dano moral", afirma a advogada.

Em 2008, a Justiça do Distrito Federal concedeu uma indenização de R$ 20 mil a uma esposa traída pelo marido, que praticou sexo virtual. Ela descobriu, no computador, correspondência eletrônica trocada entre o marido e outra mulher.

O encontro virtual passou a ser real e o marido começou a viajar muito para encontrar a amante. Segundo o argumento do processo judicial, ele passou a faltar com assistência material e imaterial. A esposa ainda descobriu que o marido contava a vida dela para a amante.

"Tais atitudes lhe fizeram sofrer, tendo que passar por acompanhamento psicológico, por atingirem sua honra subjetiva, e seus direitos personalíssimos", cita o documento.

Os e-mails e o histórico de mensagens encontrados pela pessoa traída em um computador de uso coletivo, como o equipamento de casa, podem ser usados como prova no processo de separação e de pedido de indenização.

"Se for em um computador extremamente pessoal, a validade desta prova pode ser questionada pela garantia de intimidade da vida privada. A utilização de outros artifícios (como o aplicativo do Investigador Virtual) também podem ser questionados", ressalva Juliana Vianna.

Web paixão: possível e provável

A traição virtual tem o mesmo motivo da traição real: algo está faltando no relacionamento. Quem afirma é a professora Lidia Weber, coordenadora do Núcleo de Análise do Comportamento da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

"A internet facilita algumas questões. É um risco menor, é mais fácil expressar as fantasias, é mais fácil para se abrir, testar personagens. É possível se apaixonar pela internet, sim", explica.

Ela realizou uma pesquisa sobre o comportamento do internauta universitário e suas relações no mundo virtual (ver quadro). Para a pesquisadora, quem está à procura ou já está se relacionando com alguém virtualmente precisa pensar que existe uma pessoa do outro lado da conexão.

"É um novo tipo de relação e um novo tipo de traição. Esta pode ser tão devastadora quanto a traição ‘carnal'. Depende de como você define a traição. No meu entender, configura estar ligado emocionalmente a uma pessoa no sentido romântico ou sexual. Fantasiar, tudo bem. Assistir a um filme e ter prazer sozinho é diferente de atingir o prazer em um contato com outra pessoa em uma ligação emocional", esclarece.

A relação virtual permite um conhecimento de "dentro para fora". A aparência, tão importante no mundo real, fica em segundo plano. "Já tive relatos de pessoas que só querem o caso virtual. E nada mais. Como se fosse um aditivo para a vida real", revela Weber.

Mas, se a pessoa realmente estiver gostando da outra, vai querer promover um encontro e, nesse caso, corre o risco de se decepcionar. Afinal, nada substitui a realidade do olhar e do toque.

Fonte: Paraná Online 22/11/2009